terça-feira, 19 de janeiro de 2010

American Idol, Ídolos e o carro do sonho que está passando

Em janeiro começa na América do Norte a nona temporada do American Idol. Para quem ainda não sabe do que estou falando, trata-se de um show de calouros como aquele do Sílvio Santos numa versão up to date. Em outras palavras, seu objetivo é o de produzir “celebridades” instantânea para serem esquecidas mais rapidamente do que aquelas bandas-de-um-só-sucesso, que ao menos tem suas músicas tocadas na rádio exaustivemente durante um mês inteiro. Em resumo, o show é mais um dos formatos que surgiram para validar a profecia de Andy Warhol, que dizia que no futuro todo mundo seria famoso por 15 minutos.

Profecias a parte, o programa é sucesso de audiência e embora não seja nenhuma novidade sua fórmula foi exportada para diversos países, incluindo o Brasil, onde o programa recebeu a alcunha de “Ídolos”. É claro que, como todo bom elitista, eu nunca assisti a nenhuma das duas versoes. O fato é que a televisão estava sempre ligada na hora do “show” e como eu estava sempre no sofá nesse exato momento, me deixava levar e assistia o embate musical entre os futuros Roberto Carlos e Madonnas que transbordavam originalidade a cada canção.

O loser versus o popular

A verdade é que apesar da sua falta de originalidade, o programa é muito mais do que aparenta. Não sejamos superficiais, acreditando que estamos vendo apenas um grupo de desconhecidos que têm por objetivos se tornarem ídolos interpretando cançoes escritas pelos outros. O fato é que tanto Ídolos quanto American Idol são excelentes exercícios de antropologia cultural. O que o show nos proporciona é um retrato interessante das diferenças entre as culturas brasileira e norte-americana. Trata-se pura e simplesmente da celebração do loser (perdedor) versus a celebração do popular.

As duas versoes nada mais são do que dois lados de duas moedas diferentes. Explico: Os produtores brasileiros privilegiam o rídiculo. Dão destaque para aquele cidadão sem o mínimo talento cujo objetivo é apenas aparecer na televisão e ser visto pela família e pela vizinhança. A produção estado-unidense, por outro lado, destaca o rostinho bonito e o talento (mesmo que este último conceito seja altamente discutível). Em resumo, o que vemos é uma repetição de padroes sociais e mediáticos, que colocam de um lado o feio e o desajustado contra a menina líder de torcida e o garoto rico que faz parte da equipe de futebol americano. Uma briga desleal. Mas será mesmo?

Primeiro ponto : É triste estar inserido em uma cultura que celebra o grotesco, o perdedor e que não se valoriza. Assistir pessoas cantando o hino nacional de forma errada é deprimente para uma minoria, mas infelizmente é divertimento garantido para a maioria. E é nisso que a nossa televisão aposta : nos bufoes, no entretenimento passageiro. E todos sabem disso. A TV nos Estados Unidos não. Ela também tem seus bobos da corte mas é bem explícita em um ponto: uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. A divisão entre o show do bufão e o show dos talentos é clara, muito mais perceptível. É só comparar o espaço destinado aos engraçadinhos com o espaço ocupado pelos “reais” talentos.

E embora pareça simples, a visão que os produtores estadunidenses dão ao American Idol é um pouco mais complexa. Ao valorizar os talentos eles reforçam o domínio da líder de torcida e do jogador de futebol americano, a supremacia do status quo. Não existe lugar para perdedores. É claro que isso é pura hipocrisia. Todos sabem que é apenas o carro do sonho passando e quando você menos espera, ele já passou.

Isso não significa que um modelo seja melhor ou pior do que o outro. Cada um serve, à sua maneira, para reforçar o padrão estabelecido. O Ídolos está aí para mostrar que a estima do brasileiro ainda anda em baixa e que se tem uma coisa que sabemos fazer é rir da própria desgraça. Ao menos nós somos honestos, não prometemos nada mais que 15 minutos.

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